Vamos encarar a realidade? Vamos colocar os pingos nos is? Se você
não está feliz, o problema é seu. Sim, meu amigo, sinto dizer. O
problema é seu. (Única-e-exclusivamente seu). O problema não é meu. O
problema não é dele. O problema não é do destino. Nem da
novela-das-oito. A pior coisa no mundo (e mais covarde também) é
distribuir culpas e se tornar vítima do próprio sofrimento.
Mas não te culpo. Nós crescemos assim. Jogamos a responsabilidade de ser
feliz nas mãos dos outros. Vai dizer que não? Vai dizer que você nunca
disse a eterna frase dos acorrentados: a culpa não é minha!!!! Ah, sei…
Se a vida é sua, a culpa de você estar aí, decepcionado, inquieto, cheio
de raiva no coração é das pessoas que inexplicavelmente se voltaram
contra você? Sinto te informar que não. A culpa é sua, sim. Aceite.
Aceite sua culpa como sua máxima verdade. Tome-a nos braços. Você é
culpado pela sua infelicidade. Pela sua felicidade. Pelo que você faz e
recebe da vida. Decorou? Então tome nota. O que você plantou, estará na
sua mesa.
Não é fácil, eu sei. E eu digo isso porque preciso acordar. Eu não posso
dizer que ele me decepcionou. Eu não tenho o direito de achar que meu
coração tem duzentos e cinqüenta e cinco cicatrizes porque o amor é uma
faca afiada que corta. Vamos jogar aberto. A culpa é minha. Eu dei meu
coração. Eu criei expectativas. Então, com sua licença. A culpa é minha.
Minha culpa. Minha feia culpa que é minha e de mais ninguém. Minha
culpa de sete pontas. Minha culpa que me faz olhar a vida e me sentir
personagem principal de uma página triste. E não é só triste. É uma
culpa boa. Porque também me faz exercitar um sentimento maior (e mais
brilhante que o mundo): o perdão.
Se eu pudesse escolher um verbo hoje, eu escolheria perdoar. Assim,
conjugado na primeira pessoa, com objeto direto e ponto final: eu me
perdôo. Não, eu não te perdôo porque não tenho porque te perdoar. Tenho
que perdoar a mim. A mim, que me ferrei. Me iludi. Me fodi. Me refiz. Me
encantei. A culpa é minha. Minhas e das minhas expectativas. Minha e
das minhas lamentáveis escolhas. Minha e do meu coração lerdo. Minha e
da minha imaginação pra lá de maluca.
Então, com sua licença, deixe eu e minha culpa em paz. Eu e meu
delicioso perdão por mim mesma. Eu só te peço uma coisa. Pare de culpar a
vida. Pare de ter pena de você. Se assuma. Se aceite. Se culpe. Se
estrepe. Se mate. Mas se perdoe. Pelo amor de Deus, se perdoe.
- FERNANDA MELLO
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