Cabisbaixo,
seguia pela rua,
minha face rubra denunciava a vergonha sofrida
sem reação, a sua atitude
me afastei,
tinha olhos marejados
e o coração apertado pela angústia
...
Decepção,
esta era a palavra que corria por minha mente
ecoando repetidamente,
me desgastando, me ressequindo...
...
Sempre te amei,
mas foi como um pesadelo
que vivi hoje este sentimento
Eu um simples poeta,
testemunha das ilusões,
malabarista das palavras,
dependente e sonhador
Fui dominado por tua divina beleza e,
por anos tornei-me subordinado a teus caprichos de grande dama,
sucumbi inválido diante de tua alma prepotente e inconsequente
mesmo sofrendo, alimentei meu amor por ti...
Assisti impassível teus excessos,
bebi calado em cálice o teu veneno,
servil me habituei a tuas cipoadas
E tu soberba, designou-se minha dona,
senhora do sarcasmo e da ironia que habita os infelizes,
desdenhou do meu amor, desde o primeiro momento
Eu cego, ou encandeado por tua carcaça formosa,
deixei de perceber que ali abrigava um âmago pútrido...
...
A noite passava por mim,
bares, bebidas, mulheres e esquinas
Minha face ainda ardia,
uma ânsia constante me contraia o tórax...
Aquilo não era só vergonha,
sentia-me um verdadeiro imbecil,
minha alma poeta me fragilizou,
cego, doei-me a ilusão
e construí os alicerces dessa dor.
O som de sua risada ainda ecoava ao meu redor
tuas palavras eram trazidas pelo vento
e se confundiam com os sons que vinham dos botecos
e eu entorpecido pela humilhação
procurava detê-las sem resultado...
...
Voltei uma hora em minha vida
...
Me vi de joelhos diante de ti,
esta noite foi escolhida a dedo,
o pedido,
a caixinha,
que dentro transportava todo valor daquele momento...
Há dois anos,
exatamente numa noite como esta,
enlouqueci diante da beleza de seu sorriso,
e fui encorajado a acreditar que era um felizardo...
Como se não bastasse o "não",
pernóstica,
você zombou de minhas palavras
após explorar cada minuto dos meus sentimentos,
sem compaixão fincou teu salto em meu peito
e em público, me fizeste de tolo
me dispensaste enquanto diante de ti abria minha alma,
humilhou-me com tuas ferinas palavras
desmereceu de toda minha paixão
Eu próprio preparei aquele espetáculo para você me desprezar,
insensível lançou ao chão o tesouro que te oferecia,
e me depreciou sob os olhares de quem sempre foi tua platéia...
...
Meus olhos cheios de lágrimas,
negaram-se a mais uma vez te olhar,
minha face vermelha pela vergonha e decepção
voltou-se ao chão,
minhas pernas bambas dali me tiraram,
perdi meu rumo,
foram meus instintos que me guiaram,
porém minha audição não me poupou
e por mais que eu me afastasse
ainda era possível ouvir um enorme burburinho,
as gargalhadas e suas esnobes palavras,
eu corri dali,
me afastei o máximo que pude,
no entanto,
minha dignidade permaneceu naquele lugar,
recolhendo todas as flechas lançadas
e que agora, perfuram meu coração.
"ENTRE AS DIVERSAS FORMAS DE MENDICÂNCIA, A MAIS HUMILHANTE É A DO AMOR IMPLORADO" (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)
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