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domingo, 10 de março de 2013

haicai - Poesias Japonesas


Poesias Japonesas


haikai - haicai - haiku










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O HAIKU JAPONÊS



A ORIGEM

O haiku deriva duma forma anterior de poesia, em voga no Japão entre os séculos IX e XII, designada por tanka; tinha 5 versos, de 5 e 7 sílabas, que tratavam temas religiosos ou ligados à corte.

No século XV, os muitos concursos de poesia tanka deram origem a um jogo de escrita de longos poemas: a primeira estrofe, de 3 versos (com 5, 7 e 5 sílabas), era sugerida por um poeta e as restantes iam surgindo e associando-se, num jogo competitivo entre vários poetas.

Este tipo de poesia era a renga, de temática clássica, e os primeiros três versos (os mais importantes, pois serviam de mote) designavam-se por hokku. No século XVI, tornou-se mais popular o haikai-renga, de temática humorística.

Rapidamente a estrofe inicial de 3 versos acabou por se tornar uma forma independente de poesia. Mas só no século XIX, o mestre Masaoka Shiki lhe atribuiu um nome: haiku  (pela junção das palavras haikai e hokku).

   
    

A EVOLUÇÃO

 



Bashô Matsuo (1644–1694), considerado o primeiro e maior poeta japonês de haiku, nasceu samurai e adotou a simplicidade tanto na vida como na criação poética.

Enriqueceu o haiku, superando a artificialidade de poetas anteriores e tornando-o artística e socialmente aceito. A par de poemas de carácter lúdico, começou a valorizar o papel do pensamento no haiku, imprimindo-lhe o espírito do budismo zen.

Versátil, os seus poemas sugeriam os mais variados estados de espírito: humor, depressão, euforia, confusão,... permitindo uma consciência da grandiosidade da natureza ( física e humana ).

Este caminho
Ninguém já o percorre,
Salvo o crepúsculo.

De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume.


Outros poetas do género se lhe seguiram: Buson Yosa (séc. XVIII),  Shiki Masaoka (séc. XIX), Koi Nagata (séc. XX).

De salientar Shiki, crítico de Bashô por considerar que a sua poesia carecia de pureza e tinha demasiados elementos explicativos: o haiku deveria ser a partilha de um momento e não a sua explicação, privilegiando a descrição visual e o estilo conciso.

Nem Shiki nem os poetas contemporâneos afirmaram uma ligação ao zen, como Bashô, embora seja inegável que a essência desta filosofia continue presente em muitas composições haiku.




AS CARACTERÍSTICAS


“O haiku é mais do que uma forma de poesia; é uma forma de ver o mundo. 
Cada haiku capta um momento de experiência; 
um instante em que o simples subitamente revela 
a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, 
 a natureza humana, a vida”. 
(A. C. Missias, biólogo e poeta americano)

Basicamente, o haiku define-se como uma forma poética que, quanto à forma, tem três versos curtos e, quanto ao conteúdo, expressa uma percepção da natureza.            

Os três versos (sem rima) apresentam, respectivamente, 5, 7 e 5 sílabas métricas japonesas. A métrica japonesa assenta essencialmente no elemento duração: por exemplo, a palavra Bashô, metricamente tem três sílabas ou unidades de som, porque o /o/ final é longo.            

São dois os elementos de conteúdo, em não mais do que duas frases: uma percepção sensorial (particular e imediata) e uma percepção sugestiva  (de maior amplitude circunstancial ou semântica). A separação entre os dois elementos é feita por uma palavra ou sinal gráfico (kireji).            

A percepção sensorial parte de um vocábulo associado a um elemento da natureza e, frequentemente, às estações do ano (Kigo) O kigo representa o aqui e agora que originou uma dada emoção/sugestão.

Não apresenta objetividade, mas a subjetividade expressa provém sempre de uma objetividade captada pelos sentidos. Uma sensação concreta – visual, auditiva, táctil – permite associações, sentimentos, memórias, o reconhecimento de um conjunto mais amplo em que essa sensação se encaixa.

O kaiku capta o instantâneo, registra, enquadra, presentifica, evoca, emociona... a ligação semântica entre as palavras expostas será sempre feita pelo leitor. É, pois, uma forma de poesia breve, depurada, bela, simples e fluente. É uma reação estética minimalista à crescente consciência humana do caos. Exige uma atenção aos mais pequenos eventos da natureza objetiva e imediata; uma permanente atitude de espanto perante o fenômeno da natureza.

Pressupõe uma relação entre o particular e o geral, entre o mais individualmente percebido e o ritmo cósmico da natureza, entre a efemeridade da sensação e o eco que esta pode despertar na sensibilidade e na memória, promovendo uma união entre o sujeito e o objeto. De referir que, no Oriente, o conceito de união entre o homem e a natureza é diferente do ocidental: o homem também é a natureza, por isso, o conceito de união remete para aquele momento específico em que o homem reconhece essa natureza a que ele também pertence.



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