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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Extremos da Paixão

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Extremos da Paixão
"... Não compreendo como querer o outro possa tornar-se
mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa
pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo
consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o
mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do
pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é vera viagem: véu
de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos".
 "Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que
está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar,
que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada:
(...)
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de
rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras
para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais."
"Mergulho no cheiro que não defino, você me embala
dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de
buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones,
máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me
beija e você me aperta e você me leva pra Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos,
e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo bem."
 Caio Fernando Abreu

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