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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Tu tens um medo, Acabar






Tu tens um medo,
      Acabar

Não vês que acaba todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor
Na tristeza
Na dúvida
No desejo.

Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Não amas como os homens amam.
Não amas com amor.

Amas sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Ama como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti, que não te inquieta.

Se o amor leva a felicidade,
Se leva a morte,
Se leva algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...

Não faças de ti um sonho a realizar.
Vai sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.

Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe,
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.

Se o que renuncia altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem o orgulho da tua renúncia!
Abres as tuas mãos sobre o infinito 
E não deixes ficar de ti nem esse último gesto!
O que tu vistes amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil, 
Foi o que viram os teus olhos humanos,
Esquecidos ... 
Enganados...

 No momento da tua renúncia 
Estenda sobre a vida os teus olhos
E tu verás o que vias.
Mas tu verás melhor...
E tudo que era efêmero
Se desfez.
E ficaste só tu que é eterno.
                                                                      Cecília Meireles 
 

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