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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Personagem





Personagem

Teu nome é quase indiferente
e nem tem rosto mais me inquieta
A arte de amar é exatamente
a de ser poeta.


Para pensar em ti me basta
O próprio amor que por ti sinto
 És a idéia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.


O lugar da tua presença
é um deserto entre variedades:
Mas nesse deserto é que passa 
o olhar de todas as saudades


Meus sonhos viajão rumor tristes,
e, no seu profundo universo
tu, sem forma e sem nome, existes.
Silêncio, obscuro, disperso.


Teu corpo, e teu rosto, e teu nome.
Teu coração, tua existência.
Tudo, o espaço evita e consome,
e eu só conheço a tua ausência.


Eu só conheço o que não vejo,
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.
                         
                                                          Cecília Meireles 



" Eu canto porque o instante existe,
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta."
 
 

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