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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O teu riso






O teu riso


Tira-me o pão se quiseres,
tira-me o ar,
mas não tires o teu riso.


Não me tires a rosa,
a flor da espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra a tua alegria,
a repentina onda de prata 
que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos cansados
de terem visto a terra que não muda
Mas quando o teu riso entra 
sobe ao céu a minha procura
e abre-me todas as portas da vida.


Meu amor, na hora mais obscura
desfia o teu riso,e de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, por que, e teu riso será para mim 
as minhas mãos como uma espada fresca...


Perto do mar de outono,
o teu riso deve erguer 
sua cascata de espuma...
E na primavera amor
quero teu riso como a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa da manhã...


Ri-te da noite 
do dia
da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te desse rapaz desajeitado que te ama
mas quando abro os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem ,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar, 
a luz a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria..
                    

                                                                 Pablo Neruda   


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