Amarelando sonho
Estou tentando alguma coisa. Nos lentos passos do quarto á sala,
um breve presságio. Som de riso na rua é como badalo de sino, me
pedindo pressa. A fenda emperrada da janela, esquecida, vigia minha
intensa vontade de que no canto de algum cômodo, morra essa urgência.
Que se acumula. E se funde ao pó empreguinado e mal varrido. Lá fora, o
frio. No tempo e em mim. Tenho medo desse silêncio; dessa umidez
excessiva da vida nos meus olhos. Da fé sendo amputada. Do que assim,
venho me tornando. Chega o tempo, em que muitas coisas ao redor, vão se
indo. Alcançando outros destinos. E me sinto uma passagem desistida na
gaveta. Amarelando sonho.
Patty Vicensotti
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